Sunday, August 16, 2009

É lindo, mas pode morrer...

O Amor
O amor, quando se revela,
Não se sabe revelar.
Sabe bem olhar p'ra ela,
Mas não lhe sabe falar.
Quem quer dizer o que sente
Não sabe o que há de *dizer.
Fala: parece que mente Cala: parece esquecer
Ah, mas se ela adivinhasse,
Se pudesse ouvir o olhar,
E se um olhar lhe bastasse Pr'a saber que a estão a amar!
Mas quem sente muito, cala;
Quem quer dizer quanto sente Fica sem alma nem fala,
Fica só, inteiramente!
Mas se isto puder contar-lhe O que não lhe ouso contar,
Já não terei que falar-lhe Porque lhe estou a falar..

Fernando Pessoa

As Sem-Razões do Amor

Eu te amo porque te amo, Não precisas ser amante, e nem sempre sabes sê-lo.
Eu te amo porque te amo
Amor é estado de graça e com amor não se paga.
Amor é dado de graça, é semeado no vento, na cachoeira, no eclipse.
Amor foge a dicionários e a regulamentos vários.
Eu te amo porque não amo bastante ou demais a mim.
Porque amor não se troca, não se conjuga nem se ama.
Porque amor é amor a nada, feliz e forte em si mesmo.
Amor é primo da morte, e da morte vencedor, por mais que o matem (e matam) a cada instante de amor.

Carlos Drummond de Andrade
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